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terça-feira, 2 de maio de 2017

SER HUMANO É...

★★★★★★★★★☆
Título: Human
Ano: 2015
Gênero: Documentário
Classificação: Livre
Direção: Yann Arthus-Bertrand
Elenco: -
País: França
Duração: 190 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma coletânea de histórias e imagens sobre nosso mundo, oferencendo uma imersão à essência do que é ser humano.

O QUE TENHO A DIZER...
Yann Arthus-Bertran é um fotógrafo, jornalista, repórter, cineasta e ambientalista. Nascido na França, o diretor de 70 anos ficou famoso quando lançou o livro Earth From Above (1999), resultado de seus estudos sobre o comportamento da Terra, patrocinado pela UNESCO. O livro é uma coletânea de fotos aéreas tiradas das mais impressionantes e belas paisagens que ele registrou do mundo, e vendeu mais de 3 milhões de cópias, se tornando também uma série documental de 16 episódios.

Em 2009, ele lançou Home, seu primeiro documentário em longa metragem, abordando a relação do homem com a natureza através de imagens deslumbrantes e uma narrativa bastante objetiva que questionava o equilíbrio ecológico do planeta atualmente.

Anos se passaram, e o meio ambiente sempre foi o principal assunto de discussão de seus trabalhos posteriores. Mas, em 2012, Yann resolveu dar início a outro trabalho e focar a natureza através de outro ponto de vista, o ponto de vista humano.

Com uma equipe de 20 pessoas, o diretor entrevistou mais de 2000 mil pessoas em 60 países. Uma proporção jamais feita antes. As entrevistas seguiam um questionário padrão de aproximadamente 40 perguntas relacionadas a diversos temas, desde os mais pessoais, até os mais abrangentes.

Desde o princípio, Yann tinha a audaciosa intenção de lançar o longa nas condições mais livres para o maior número de pessoas possível, e, obviamente, não conseguiu encontrar nenhum outro veículo que melhor pudesse lhe oferecer isso da maneira mais democrática do que a internet.

O documentário foi lançado em 2015 na Bienal de Cinema de Veneza, simultaneamente em 400 salas de cinema na França, e no YouTube, já que a Google foi sua parceira exclusiva, disponibilizando o material na versão extendida em seis línguas: Inglês, Russo, Espanhol, Português, Árabe e Francês, se tornando o primeiro documentário a ter o maior lançamento mundial não comercial e gratuito da história. E não por menos, pois o trabalho, mesmo que tenha seu teor crítico e diversas camadas de interpretação, seja, em sua grande essência, a maior homenagem ao ser humano que alguém já ousou fazer.

Belo e impressionante, é um documentário de formato simples e intimista. Nada além de histórias sob diferentes aspectos de vida contadas por pessoas frente a câmera, em um plano escuro, intercalando os diferentes temas abordados com maravilhosas imagens aéreas de paisagens que sempre mostram grupos de pessoas realizando atividades que, para elas, podem parecer grandiosas e extenuantes, mas na realidade mostram como somos tão pequenos e frágeis. Acima de tudo, mostra nossa característica mais marcante, a de que, apesar de toda nossa individualidade, somos seres grupistas, que necessitamos uns dos outros para realizar ou dar continuidade a qualquer coisa que seja. 

O capricho da produção, de sua fotografia, da qualidade do som e da imagem, são tão deslumbrantes que o que se destaca são os próprios indivíduos. E cada olhar, cada assimetria, cada marca de expressão, cada cicatriz, cor, defeito ou detalhe único de cada um, se transformam em belezas raras, contando muito de suas próprias histórias de vida mais do que elas mesmas precisariam contar. Pessoas que não tem nome, pois não é isso que interessa. Yann não dá uma identidade ao entrevistados porque quer deixar evidente que, além do que se acredita, isso não impede as pessoas de terem voz, e que são as experiências únicas que as definem como indíviduos e como um coletivo.

Amor é o tema inicial de abertura do filme. Os olhos dos entrevistados brilham, e suas diferentes opiniões sobre aquele que é o maior sentimento humano apenas comprovam que, mesmo havendo infinitas formas de definí-lo, ele é um só.

Essa introdução nos prepara para assuntos mais complexos. Aos poucos, o diretor nos carrega por outros temas como o machismo, família, homossexualidade, religião, pobreza, guerra, dentre outros. Diferentes experiências e sensações que vêm em ondas, já que, da mesma forma como curtos relatos conseguem tirar de nós os mais sinceros sorrisos, outros também conseguirão tirar de nós as mais sinceras lágrimas. A intensidade emocional é grande, mas não há sensacionalismo. Yann consegue mesclar essas diferentes intensidades de maneira tão hábil que nos incentiva a querer conhecer muito mais de cada um.

A brutal honestidade dos diferentes relatos apenas expõe feridas que ignoramos, ou pouco conseguimos compreender por não fazerem parte do nosso cotidiano. Em um mundo atualmente tão individualista, marcado cada vez mais por sistemas cruéis que sugam das pessoas a capacidade de compreensão do próximo, Human consegue ser um excelente exercício de descobertas, tolerância e respeito, uma expansão de consciência daquilo que somos e deveríamos ser.

É fácil julgarmos as pessoas e definir sentimentos de maneira simples, conforme nossas experiências pessoais, mas é difícil nos despir do pré-conceito. É fácil julgarmos alguém pela sua aparência, mas é difícil querermos conhecer sua história. Human consegue fazer isso, de nos mostrar que sentimentos são muito mais do que apenas aquilo que sentimos, e que por trás das aparências há experiências que talvez nunca teremos, mas devem ser respeitadas, para através delas quebrarmos paradigmas e sairmos de um status quo alimentado por uma sociedade comumente superficial e movida a impressões.

Yann desmembra a complexidade e a beleza em ser humano, do nosso instinto de sobrevivência, da nossa força tirada sabe-se lá de onde para nos mantermos em um objetivo, e da esperança existir até mesmo onde ela parecia abandonada. Também nos mostra como as experiências são modificadoras, e como não podemos deixar que certas heranças culturais se sobreponham a noções básicas do convívio e do respeito.

Um documentário transformador, que consegue nos dar diferentes impressões do que somos antes e do que pretendemos ser depois de assistí-lo. Como li em um comentário, um antídoto a tudo aquilo que nos divide, que enfraquece a dicotomia do "EU VERSUS ELES", que resume os erros que nos fazem sempre querer nos sobrepor aos outros, e resumir tudo às diferentes violências de maneira tão fácil.

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