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terça-feira, 3 de março de 2015

MELHOR QUE MUITO HORROR POR AÍ...

★★★★★★★
Título: The Babadook
Ano: 2014
Gênero: Terror
Classificação: 14 anos
Direção: Jennifer Kent
Elenco: Essie Davis, Noah Wiseman
País: Austrália, Canadá
Duração: 93 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma mãe solteira, atormentada pela morte violenta de seu marido, tem que lidar com o medo de seu filho sobre um montro que ele acredita estar presente na casa, o que a leva aos poucos descobrir que algo sinistro acontece a sua volta.

O QUE TENHO A DIZER...
Filme australiando, dirigido e escrito pela também atriz australiana Jennifer Kent, baseado em um curta metragem também escrito e dirigido por ela mesma, chamado Monster, considerado por ela como o "baby Babadook".

A história simples de uma mãe solteira que tenta superar a perda do marido enquanto cria seu filho não é novidade. Muito menos novidade é um monstro que atormenta a família dentro da casa numa releitura bem elaborada do "monstro do armário". Bem como também não é novidade algumas das reviravoltas do roteiro.

Em resumo, não há novidade alguma aqui, que por sinal muito se assemelha ao horrível e extremamente mal elaborado O Pesadelo (Boogeyman, 2005), mas o filme de Kent surpreende por ser barato e bem feito. Um terror fundamentalmente psicológico com metáforas espalhadas por toda sua narrativa. Segundo a própria diretora, a idéia do roteiro surgiu quando tentava escrever uma história sobre pessoas aprenderem a lidar com seus lados mais obscuros e o medo que temos de enlouquecer. Também quis explorar a educação familiar a partir de uma perspectiva realista, o que gerou certa polêmica, já que em um dos momentos do filme a personagem principal deseja que seu filho estivesse morto. Kent explicou a situação, dizendo que a dificuldade da educação familiar não nos leva a desejar a morte de nossos próprios filhos, mas muitas mães sofrem e tem dificuldades sérias nesse processo, mas ninguém fala sobre isso porque é um tabu acreditar que a maternidade nem sempre é uma excelente experiência.

É por essa razão que os personagens são tão amáveis, justamente para que o espectador tenha uma maior compaixão pelas dificuldades que passam. Amelia (Essie Davis) é doce, que cuida de idosos em uma casa de repouso, mas sofre de depressão crônica pela perda do marido. Seu filho, Samuel (Noah Wiseman), é um garoto carinhoso, mas que sofre de alguns distúrbios, dizendo sempre aquilo que lhe vem a cabeça e sendo incapaz de mentir ou omitir algo, talvez numa condição clínica mais branda da Síndrome de Asperger. Os dois juntos formam uma família solitária, que tem dificuldades de se relacionar socialmente, inclusive com seus próprios familiares.

A condição de dependência da mãe com o filho e dele com ela é bastante evidente, mas tudo começa a tomar outro rumo quando passam a ser atormentados por uma entidade sobrenatural. O filme não deixa muito claro se tudo é resultado de um comportamento induzido ou sobrenatural de fato. O interessante é que no fim tudo isso pouco importa, pois se existe uma coisa que o filme consegue desenvolver muito bem, é sua atmosfera fantasmagórica.

Mesmo a história e sua construção sendo bastante clichés, as cenas estão longe de criar sustos fáceis, como é comum no gênero. Em contraponto, tudo é desenvolvido de forma lenta e bastante convincente, impressionando nas situações mais simples, como quando a protagonista dorme e o filme é acelerado para haver a transição de tempo. Simples, mas que dentro do contexto do filme já introduz o espectador ao tom mais sombrio que ele toma. Junta-se a isso as incríveis ilustrações de Alexander Juhasz, que mesmo com traços lúdicos, já criam um certo mal estar no pop-up book mostrado no filme.

Com um orçamento de aproximadamente US$2 milhões, sendo que US$30 mil foi levantado com o Kickstarter, sua bilheteria total arrecadou quase US$5 milhões. Surpreendente para um filme deste porte. Os elogios da crítica ultrapassaram os continentes e ele tem sido considerado um dos melhores filmes de horror dos últimos anos por conta da densidade psicológica em que ele é trabalhado, tudo graças às técnicas utilizadas pela diretora para compensar o apertado orçamento e a ausência de efeitos especiais. O que é algo muito bom ao se tratar de filmes de terror, nos quais está ficando cada vez mais comum a substituição de técnicas cinematográficas por efeitos especiais que mais causam risada do que medo. É por isso que a diretora foi buscar inspiração e referência nos clássicos, como A Coisa, Halloween, O Massacre da Serra Elétrica, O Iluminado e Nosferatu, além da ambientação teatral existente nos filmes B dos anos 50.

Portanto, ao contrário do que muita gente pode achar depois de assistí-lo, tudo no filme não foi feito por acaso. A ambientação da casa vitoriana, o uso de efeitos de câmera e a baixa iluminação que causam uma certa granulação e dessaturização de imagem, e o uso do "stop-motion" não são defeitos, mas técnicas funcionais e um tanto esquecidas nas grandes produções mais atuais. Algo que faz falta, principalmente em um gênero que nunca precisou de muito para se destacar, além de uma boa idéia e um excelente domínio de técnicas.

CONCLUSÃO...
Pode ser mais um filme com uma história comum no gênero, e esta releitura do "monstro do armário" é uma produção pequena que utiliza truques de câmera, edição e trilha sonora para criar o clima aterrorizante sem a necessidade de efeitos especiais, como tem sido o erro da maioria dos filmes de terror atualmente. É a prova de que terror não se faz com tecnologia, mas com técnica.

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