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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

MEDIANO, E NADA MAIS...

★★★★★
Título: Wolverine: Imortal (The Wolverine)
Ano: 2013
Gênero: Ação, Drama
Classificação: 12 anos
Direção: James Mangold
Elenco: Hugh Jackman, Rila Fukushima, Tao Okamoto, Svetlana Khodchenkova, Framke Janssen
País: Estados Unidos
Duração: 126 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Após a morte de Jean Grey, os X-Men se separaram, e Wolverine está em crise existencial. É quando uma estranha japonesa o aborda na tentativa de levá-lo ao Japão para se despedir de uma pessoa pela qual sua vida é grata a ele. Relutante, resolve ir, para descobrir que essa decisão será responsável por faze-lo repensar em todo seu comportamento auto-destrutivo nos últimos anos, e que inclui sua imortalidade.

O QUE TENHO A DIZER...
É difícil falar deste novo filme de Wolverine depois de tantos acidentes de percurso. Recapitulando a cronologia de forma breve, o terceiro filme da saga dos mutantes, X-Men: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006), deixou a desejar, sendo um fracasso de crítica frente aos dois primeiros dirigidos por Bryan Singer. Posteriormente a Marvel, juntamente com a Fox, tentaram criar uma franquia chamada Origens, para contar a origem dos personagens mutantes. O herói escolhido foi de Wolverine, e o filme foi lançado em 2009. Isso foi óbvio pois ele é o personagem mais popular de todo o universo Marvel. A produção corrida, empurrada com a barriga, com um desenvolvimento péssimo e uma deturpação terrível de todos os personagens envolvidos resultou em um produto comercial pobre e ruim, que enterrou de imediato a idéia de uma nova franquia que desse ênfase ao passado de cada herói. Mesmo assim o público queria mais, e depois do sucesso da trilogia Batman, de Christopher Nolan, a tendência seria óbvia, e resolveram realizar um precipitado "reboot".

Conscientes do erro que foi o primeiro filme de Wolverine, tanto a Marvel quanto o estúdio Fox admitiram o erro, e tentaram promover a idéia de que o primeiro filme nunca existiu, e que esta nova empreitada seria, em definitivo, uma forma de mostrar o herói como ele realmente é, por um lado mais obscuro, intimista e humano, coerente com o que os fãs queriam, na tentativa de seguir à risca a idéia desenvolvida por Nolan com Batman.

A história está diretamente relacionada com os eventos do terceiro filme da saga X-Men, já que agora Wolverine está isolado e constantemente atormentado pelo espírito igualmente atormentado de Jean Grey, sua amada que morreu por suas próprias mãos... ou garras, melhor dizendo. Na verdade isso é uma dúvida que o filme propõe, pois não sabemos se o que atormenta o herói é realmente o espírito da amada, ou seu próprio psiquê. Para os que estão familiarizados com as histórias em quadrinhos ou até mesmo com a primeira série animada na televisão, sabe que Jean Grey era uma mutante de poderes tão únicos e elevados que ela até poderia morrer, mas mesmo assim, manter sua consciência no plano real e humano, e isso é uma idéia interessante proposta pelo filme.

O filme é baseado na saga de Wolverine no Japão, escrito por Chris Claremont e Frank Miller, uma época em que o herói busca refúgio espiritual no país para, na verdade, redescobrir suas próprias origens e a razão de sua existência. Para tentar manter essa atmosfera humana, sensível e ao mesmo tempo densa, o diretor James Mangold foi contratado, o mesmo dos filmes Garota, Interrompida (Girl, Interrupted, 1999), Kate & Leopold (2001), Identidade (Identity, 2003) e Johnny & June (Walk The Line, 2005).

Não se pode negar que a tentativa foi válida, mas forçada. A verdade é que, realmente, este filme mais aparenta um interlúdio entre uma história ou outra dos X-Men do que um filme com uma história própria. Também é complicado enquadrá-lo no gênero de ação quando a maior parte dele é em torno dos dramas e conflitos pessoais de Wolverine e a dificuldade do seu grande senso de humanidade aceitar o fato de um homem tão bruto quanto ele ser imortal, enquanto pessoas frágeis, e que ele ama, morrem a sua volta, ao ponto de ele se isolar do mundo e de todos, como um animal arisco.

Isso tudo é percebido no filme, que se esforça - e muito - em trazer para o espectador esse lado humano e martirizador do personagem que foi abordado de forma muito branda e breve nos filmes anteriores. Mas apesar de todo esse esforço, é impossível ignorar que a abordagem de Wolverine nos cinemas nunca deve ser a mesma da abordada nos quadrinhos, pois o personagem e sua história são muito grandes para apenas duas horas de filme, principalmente sobre uma saga tão complexa quando a sua temporada em solos japoneses, como é mostrado nos quadrinhos.

A história até que se desenvolve dramaticamente bem até uma parte do filme, mas as coisas começam a sair do trilho quando o roteiro se lembra de que é um filme de ação que estamos falando, e não um drama, obrigando o espectador a aceitar isso ao invés de guiá-lo para uma zona diferenciada, colocando as cenas de ação apenas como uma consequência, e não como uma obrigação.

O resultado de tudo é que o filme se perde em qualquer proposta que ele tenha, podendo agradar medianamente a base de fãs, mas não muito àqueles que conhecem o herói apenas no cinema. Mas até mesmo os fãs ficarão um tanto decepcionados por novamente deturparem a história de personagens clássicos como Silver Samurai ou Yukio, tal qual fizeram com Deadpool e outros antagonistas no filme anterior. Silver Samurai, que é um mutante, no filme é tratado como um ciborgue que não convence, e muito menos convence a batalha final entre ele e o herói, em uma resolução terrivelmente banal para um dos poucos inimigos que o próprio Wolverine temia além de Dentes de Sabre, Magneto e Apocalipse.

Mesmo sendo o sexto filme em que o ator Hugh Jackman encarna o personagem, a impressão que se tem é que ele está deslocado, perdido em uma história que não soube construí-lo ou desenvolvê-lo. O personagem perdeu muito de suas características clássicas, como seu senso de humor sarcástico e sua humanidade bruta e rústica para traçarem uma personalidade sombria e blasé ditadas por uma fórmula pós-Christopher Nolan que Hollywood creditou dar certo, mas que não funcionou com ele, nem com Superman, nem com Homem-Aranha, e que não funcionará com nenhum outro personagem, seja ele Marvel ou DC.

CONCLUSÃO...
O resultado de tudo isso é um filme mediano, que empolgará poucos fãs, e decepcionará muitos espectadores que buscam apenas o entretenimento que o personagem já chegou a oferecer nos filmes anteriores. Um erro que a Marvel dificilmente conseguirá superar, mas que tentará ao retomá-lo como uma parte da equipe X-Men, e não mais como um personagem solo.

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