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domingo, 12 de janeiro de 2014

APENAS PARA FÃS DO GÊNERO...

★★★★★
Título: Somos O Que Somos (We Are What We Are)
Ano: 2013
Gênero: Horror, Mistério, Drama
Classificação: 16 anos
Direção: Jim Mickle
Elenco: Bill Sage, Ambyr Childers, Kassie Wesley DePaiva, Kelly McGillis
País: Estados Unidos
Duração: 105 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
A família Parker é tradicional, e segue um ritual antigo que já existe há gerações. Eles se encontram em uma situação de risco depois que a morte de um membro da família coloca todas as responsabilidades em cima das irmãs Iris e Rose em seguir com essas tradições.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme é uma versão americana do mexicano Somos Lo Que Hay (2010), e segue tipicamente um estilo de horror que não é agradável para muito espectador, um estilo fora de circuito, típicos para o público de Sundance, onde o roteiro está muito mais interessado em desenvolver a história e as situações até um clímax final por vezes chocante, e que foge de qualquer expectativa.

Tecnicamente ele tem lá suas qualidades e as atuações estão bem acima da média para um elenco desconhecido e para a história desenvolvida, mas não há como negar que seja desconfortável. Para quem assistiu Stoker (2012) e gostou, que foi outro filme de horror um tanto esquisito lançado em 2013 com Mia Wasikowska e Nicole Kidman, provavelmente também gostará deste. Mas ao contrário de Stoker, que tenta justificar a psicopatia dos personagens principais a partir de seus pontos de vista, traumas e razões que justifiquem a progressão desta doença, Somos O que Somos tenta justificar as ações dos personagens a partir de uma cultura ancestral pouco esclarecida em roteiro, o que deixa boa parte da história vaga e perdida, soando apenas algo inconsequente ao chegar no ato final.

A apresentação, toda trabalhada em filtros visuais e imagens desfocadas, numa fotografia até bonita, deixa dúvidas se será um filme de horror baseado no sobrenatural ou não, mas após a introdução as coisas ficam mais claras e um tanto óbvias até termos a certeza de que ele abordará temas antropofágicos, religiosos e até psicológicos.

Para os Parker, a religião e a crença estão em primeiro lugar, e eles seguem um diário ancestral que é repassado para as gerações seguintes, cuja responsabilidade sempre fica ao filho mais velho (aparentemente depois da matriarca, que é a responsável por todo o processo ritualístico). O diário detalha este ritual que hoje é realizado por eles de tempos em tempos, e é o que vai justificar a apresentação do filme e, inclusive, a demência que vai tomando conta de Frank, o patriarca.

A verdade é que a história é baseada na doença chamada Doença de Kuru, ou Doença de Creutzfeldt-Jakob, estudada e reportada pela primeira vez na década de 20, na Alemanha. Também se baseia na epidemia que ocorreu em Papua, na Nova Guiné, nas décadas de 50 e 60 entre pessoas que faziam parte de tribos que realizavam rituais antropofágicos. Durante os rituais de passagem, essas tribos se alimentavam do cérebro do familiar morto, e o que se sabe é que esta doença é transmitida pelos príons através da ingestão da carne contaminada, que são agentes infeccioso que não virais, nem bacterianos ou fungicos, portanto não conseguem ser combatidos, sendo letal para o indivíduo ou animal que o contrair. Por isso a ocorrência da epidemia em Papua. Posteriormente, descobriu-se uma variação moderna da doença em animais, a popularmente conhecida Doença da Vaca Louca.

Os sintomas são a perda de memória, tremores e demência, e se manifestam geralmente a partir dos 40 ou 50 anos de idade nas pessoas contaminadas, em sua maioria mulheres. No filme os personagens acreditam que esses sintomas sejam um reflexo da falta de fé e uma manifestação divina de que é o momento de ser realizado o ritual. As irmãs Iris e Rose não possuem a doença manifestada, portanto se questionam se o ritual realmente é necessário, e esse questionamento as colocarão em conflito com seu pai, que já está com a doença desenvolvida e todos os sintomas latentes, mas como ele não sabe disso, acredita que seja uma punição divina.

Foi uma sacada até interessante utilizar uma base científica e um fato histórico para dar profundidade a um filme de horror, ousado até, mas o momento da revelação de tudo isso é um momento tão breve e rápido que ele não apenas aparenta ser fictício como uma justificativa banal para quem não souber da existência da doença ou não pesquisar a veracidade das informações. A falta de uma explicação mais didática e condensada deixa a história superficial, e que a antropofagia pela antropofagia acaba sendo simplesmente para o bem do horror sanguinário da história e para justificar uma psicopatia latente. De qualquer forma, não é um filme de horror para qualquer um, mas impacta e até consegue construir uma atmosfera um tanto sombria.


CONCLUSÃO...
O final do filme chega a ser chocante e um tanto desnecessário, mas conclui a moral do título. Mas não chega a ser algo muito relevante no gênero, apenas um diferencial para satisfazer unicmanete os verdadeiros fãs do gênero.

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