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segunda-feira, 8 de julho de 2013

ZUMBIS PARA GENTE GRANDE...

★★★★★★★★
Título: Guerra Mundial Z (World War Z)
Ano: 2013
Gênero: Ação, Suspense, Terror
Classificação: 14 anos
Direção: Marc Forster
Elenco: Brad Pitt, Mireille Enos, Daniella Kertesz, Fana Mokoena
País: Estados Unidos, Malta
Duração: 116 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um ex-investigador federal norte-americano é obrigado pelo governo a auxiliar uma equipe que está atrás do Paciente 0 ou de uma possibilidade de cura para um provável vírus que está transformando a população mundial em mortos-vivos.

O QUE TENHO A DIZER...
Não me espanta que Guerra Mundial Z tem sido bem recebido. Em 3 semanas de exibição ele já arrecadou mais de US$366 milhões no mundo. O filme é baseado no livro de Max Brooks (que curiosamente é filho do diretor de comédias Mel Brooks), chamado World War Z: An Oral Story About The Zombie War. O livro foi lançado em 2006, e imediatamente a Paramount Pictures, juntamente com a produtora de Brad Pitt, Plan B, compraram os direitos, algo um tanto óbvio numa década que os mortos-vivos ressurgiram com grande força.

Por isso que, ao contrário do que a Rolling Stones publicou - e além do que muita gente pode achar agora - zumbis não estão na moda. Salvo este título, estão novamente bem decadentes tal qual ficaram no começo da década de 90.

Depois de tantas produções ruins, como a interminável e desnecessária série Resident Evil (que terá uma sexta continuação ano que vem), além do seriado The Walking Dead, que resolveu sugar tudo que foi feito até hoje desde os filmes de Romero, bater no liquidificador e utilizar tudo sem vergonha alguma, o gênero novamente voltou a ficar cansado de boas idéias e se GMZ surgiu muito tarde ou não é uma dúvida real.

A função de diferenciar e a necessidade de alguém hora ou outra surgir com algo inusitado se vale pela ousadia de alguns diretores que sairam um pouco da obviedade em um passado curto. Tudo começou inesperadamente com o britânico Danny Boyle ao aparecer com o genial e tenso Extermínio (28 Days Later, 2002). Posteriormente surgiu Zack Snyder e o remake de um dos clássico da primeira trilogia de Romero, Madrugada dos Mortos (Dawn Of The Dead, 2004), isso numa época que ele ainda nem era famoso por 300 (2006) ou ter feito Superman novamente vingar com O Homem de Aço (Man Of Steel, 2013). Danny Boyle saiu da direção e só assinou a produção de Extermínio 2 (28 Weeks Later), dirigido firmemente pelo espanhol Juan Carlos Fresnadillo. Posteriormente teve o espanhol REC (2007), que poderia perfeitamente ter dado continuidade na franquia que Danny Boyle tentou criar, mas que jogou fora uma grande idéia em mais duas continuações inferiores (uma terceira está a caminho). Isso tudo sem contar que George Romero conseguiu concluir sua segunda trilogia com Terra Dos Mortos (Land Of The Dead, 2005), Diário dos Mortos (Diary Of The Dead, 2007) e Ilha Dos Mortos (Survival Of The Dead, 2009). Na boa tentativa de cair na comédia ou no besteirol, também tivemos o abre alas britânico e hilário Todo Mundo Quase Morto (Shaun Of The Dead, 2004), Zumbilândia (Zombieland, 2009) e a surpresa Meu Namorado é Um Zumbi (Warm Bodies, 2013).

GMZ, tinha tudo pra ser um desastre. Para começar o roteiro teve nada mais, nada menos, que cinco pessoas envolvidas, além do prório autor que prestou consultas para o desenvolvimento da história; Brad Pitt também não é mais um grande nome no cinema e o tema perdeu o fôlego. Felizmente isso não aconteceu, e o que a gente vê na tela é um filme que funciona do começo ao fim, abraçando o espectador e o enfiando dentro da tela em mais de duas horas imperceptíveis com sequências que não economizam na tensão, nos efeitos especiais e na ação, numa história cujo grande diferencial foi ter explorado detalhes simples e sacais que apenas Romero chegou a esboçar na segunda parte de sua Hexologia dos Mortos e que ninguém deu grande atenção até então.

Outro fator muito importante é a direção de Marc Forster, responsável por filmes como Em Busca da Terra do Nunca (Finding Neverland, 2004), Mais Estranho Que A Ficção (Stranger Than Fiction, 2006) ou 007 - Quantum Of Solace (Quantum Of Solace, 2008). Ele se tornou respeitável em Hollywood, e embora seus filmes geralmente não sejam grandes sucessos de bilheteria, sua direção é amarrada e firme, um dos raros diretores atuais que conseguem conduzir a história de maneira linear, sem grandes quebras de narrativa. Esse estilo é muito definido no filme, que não deixa a bola cair em nenhum momento.

Marc Forster parece também não fazer questão de esconder que a grande referência utilizada por ele foi a franquia Extermínio. Se não foi, há motivos importantes para achar tudo uma excelente coincidência. Embora Extermínio não trate de zumbis (o filme explica que o surto ocorre por um tipo de raiva humana), em GMZ o tipo de narrativa mais subjetivo sobre o drama sofrido pelo personagem principal é o mesmo, além de também mostrar a situação como uma verdadeira guerra de nível global tal qual Boyle imaginou para uma provável terceira sequência de Extermínio, que nunca saiu do papel, mas sua vontade sempre foi latente e divulgada. Mesmo o pai de família sendo Brad Pitt e seu personagem um ex-investigador federal, Pitt não é mais um galã e seu personagem também não é nenhum cientista ou algum herói invencível metido a engraçadinho, ele é apenas um homem comum, prático e observador, tal qual os personagens dos filmes de Boyle e Fresnadillo.

Os 116 minutos de filme são feitos explicitamente para impressionar evitando cair nos clichés, finalmente deixando de explorar a batida idéia de que zumbis são burros e lentos, e tal qual como Romero fez em Terra dos Mortos (Land Of The Dead, 2005), os zumbis podem se comunicar e agir em grupo. O roteiro também se vale fortemente da idéia de que o que já está morto não morre, mas pode ser impedido. Por isso, tanto Forster, como os roteiristas, não tratam a audiência com ignorância e os personagens fazem o que deve ser feito e sem rodeios, porque não há tempo para pensar, assim como não há tempo para melodramas baratos para sentimentalizar o público e quebrar a experiência caótica, ou cair no mesmo besteirol da ação por ação. É por isso que o ritmo é rápido e em uma ação non-stop, porque é uma fuga constante. Tudo se justifica, até mesmo algumas piadas discretas soltas aleatoriamente para aliviar a tensão, os sustos bem planejados de maneira orquestrada mas não óbvia, e alguns momentos que podem soar absurdos (como a sequência da queda do avião), mas tudo é tão bem feito que isso se torna um mínimo defeito que ninguém nem dá atenção.

Embora o filme comece nos Estados Unidos, ele se desenvolve por outras partes do mundo, indo para a Coréia do Sul, Israel e Reino Unido, além do Paciente 0 ser indefinido. Talvez por ser alemão, Forster tem o cuidado principal de não fazer este filme uma grande ode ao poder nacionalista norte-americano bem como não responsabilizar ninguém pela situação, o que é um grande alívio.

Nada como um filme dirigido e produzido por pessoas crescidas, que sabiam exatamente o que queriam, o resultado que queriam e público específico que queriam, diferente de outros títulos que pecam em querer abranger todos os diferentes tipos de público e no fim agrada ninguém.

CONCLUSÃO...
Sem dúvida Guerra Mundial Z entra para a rara lista de filmes do gênero que não apenas valem a pena ser assistidos como fazem parte de um diferencial que não aparece com frequência, além de uma maneira indireta ser uma evolução e se encaixar perfeitamente dentro do realismo que Boyle e Fresnadillo criaram em Extermínio 1 e 2.

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